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    Sem categoria » quarta-feira, 28 de setembro de 2011 »
    Entrevista com a 1º Tenente Lívia Benezath

    Tenente Lívia Benezath1. Em que ano ingressou na EFOMM e quantos alunos tinha a turma da senhora?

    Ingressei em 2000 e me formei em 2003. Eram 4 anos quando estudei aqui. Na minha turma se formaram 86 alunos.

    2. Antes de entrar aqui, onde a senhora estudava?

    Eu fazia curso preparatório para AFA. Bati na trave na AFA: passei, mas não classifiquei. No mesmo ano fiz o concurso da EFOMM, mas não passei. No ano seguinte, tentei AFA novamente e a mesma situação se sucedeu, mas passei para cá. Não tinha muito conhecimento sobre a EFOMM, porque antigamente não era tão divulgado. Não era o foco… ninguém ia para o curso para entrar para a EFOMM. Diante disso meus pais falaram “tenta, vai lá, se dê essa chance”. Vim e na adaptação já me apaixonei, chegando à conclusão de que foi sorte mesmo não ter ido para a AFA.

    3. E quanto à rotina na época da senhora? Era muito diferente?

    Era muito diferente. A começar que eram quatro anos. O Corpo de Alunos era menor, a turma mais antiga, por exemplo, não tinha rancho corrido. O nosso rancho era como era para o primeiro, segundo e terceiro ano. A gente formava, fazia chamada e subia para o rancho. Outra diferença é que não tínhamos aula à tarde: logo após o almoço tinha a parada; assim o horário do TFM era mais estendido.

    4. A senhora realizou o embarque que existia durante o curso?

    Fiz. Na época, ficávamos dois anos e embarcávamos. Fazíamos o primeiro e o segundo ano todo e, quando virava terceiro anista, fazíamos um embarque de seis meses. Voltávamos em julho e assumíamos o comando da Escola. No quarto ano, continuávamos durante o primeiro semestre todo no comando da Escola e no meio do ano íamos fazer a praticagem.

    5. Que dificuldades encontrou quando aluna?

    No início, dificuldade de adaptação com a distância de casa, que a própria rotina da escola me ajudou a superar. Mais tarde notei que os quatro anos que aqui passei foram essenciais para minha vida a bordo.

    6. A Senhora foi Maquinista ou Piloto? Como foi a escolha?

    Sou Piloto. Depois que acabávamos o primeiro ano realizávamos um embarque vocacional (para escolha de máquinas ou náutica) em navios mercantes. Era bastante esclarecedor.

    7. Sentiu falta de algo da época de Escola?

    Saudades dos amigos, saudade do grupo, da turma e da convivência na Escola. Até mesmo da rotina, pois quando nos tornamos Oficiais as responsabilidades são bem maiores. Você sai de um mundo com responsabilidades fáceis de lidar para o mundo de verdade, em que você é responsável por tudo. Muito dinheiro está envolvido, uma embarcação está em suas mãos… Você responde por coisas valiosas, pela segurança da navegação, do meio ambiente e, principalmente, pela vida das pessoas que lá estão.

    8. Pertenceu à qual equipe?

    Quanto a isso, o pessoal da educação física puxava minha orelha. Eu queria ser de todas, sempre gostei muito de esportes. Fui do vôlei, basquete, natação, judô, remo (…). A única que não fui mesmo foi da vela.

    E em qual foi a que a senhora passou mais tempo?

    Na equipe de vôlei.

    9. Fez a praticagem em que empresa? A senhora embarcou sozinha? Foi uma boa experiência?

    Fiz na Norsul. Não, embarquei com mais três colegas. Bom, eu terminei antiga na escola e naquela época a gente podia escolher. Optei pela Norsul, que fazia longo curso e pagava diária em dólar. Na praticagem, dei o azar de cair num navio que encalhou no Rio Amazonas e ficamos mais de um mês com a embarcação encalhada. Quando desencalhou, fomos para o estaleiro e lá ficamos quase dois meses. A essa altura já iam cinco meses de praticagem. Então tive de escolher: ou ia fazer longo curso ou desembarcava e ia para offshore (tinha em vista a CBO, que na época era uma das mais cobiçadas). Decidi, por fim, abrir mão da CBO para fazer minha viagem de longo curso, porque não tinha experiência (praticamente) embarcada como praticante, já que o navio havia ficado parado. Então depois a senhora fez uma viagem de longo curso? Sim. Fiz Texas/ Filadélfia/ Nova York/ Vitória/ Rio de Janeiro, desembarcando, por fim, no Rio de Janeiro.

    10. Quais as felicidades que a carreira lhe trouxe?

    Muitas. Primeiro, financeira. Fora isso, eu cresci como pessoa (processo que começou na Escola). A Escola amadurece muito a gente. Comecei a valorizar coisas que não valorizava antes. Quando você embarca tem que abdicar de muitas coisas: da família, da convivência, dos natais, das festas (…). E, hoje, a condição de estar aqui (na Marinha do Brasil) também é graças à Marinha Mercante, que tem um quadro que acolhe os oficiais da Mercante, que, a meu ver, muito têm a contribuir para Marinha de Guerra. Tudo o que eu tenho, o que sou hoje, eu devo à Marinha Mercante. É por isso que sou apaixonada pela Escola e pela profissão.

    11. Por que saiu da Marinha Mercante? E como ingressou na Marinha de Guerra após deixar a Mercante?

    Embarcar é difícil. Em um ano passava seis meses em casa e essa ideia não estava mais me agradando. É aquilo: quando o dia do seu desembarque passa a ser mais feliz que o dia do seu pagamento, é sinal que está na hora de você procurar outra coisa para fazer. Depois que me formei, pratiquei e fui trabalhar em plataforma, que é a melhor condição a meu ver (se tem maior contato com terra). E assim fiquei por mais um ano até que resolvi desembarcar. Então fui trabalhar como embarcadora na TRANSPETRO, depois na FLUMAR, como planner na Libra (como a sede mudou para Itajaí, não quis ir) e depois vim dar aula aqui no Centro de Simuladores (para o terceiro ano) de gerenciamento de passadiço. Três anos depois, fiz o concurso para a Marinha do Brasil, cursei e agora estou de volta.

    12. Pretende continuar na Marinha do Brasil?

    Pretendo. A minha cabeça hoje é essa. Está muito recente a minha chegada à Marinha do Brasil. A princípio, ainda pretendo render bons frutos, fazendo a minha parte pela mesma.

    13. E para finalizar, a senhora poderia deixar uma mensagem para os alunos como um incentivo para continuarem firmes no objetivo de serem mercantes?

    Gostaria que os alunos entendessem a importância deles no mercado de trabalho, no desenvolvimento do nosso país, no engrandecimento da nossa Escola. Eu tenho uma irmã que estuda na UERJ. Se você disser a ela que a UERJ é feia, que professor falta, ela sai em defesa. Acho que é esse sentimento que falta para o aluno da EFOMM. O aluno, muitas vezes, coloca a Escola à prova. Ou você está satisfeito ou vai embora. Porque no seu currículo você vai levar para sempre Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante. Vocês têm que fazer o máximo para que as pessoas respeitem esta Instituição. Têm que ser os primeiros a prezar por esse nome.

    O que cobramos de disciplina aqui é necessário, porque vocês também serão cobrados a bordo quanto a esse aspecto. O militarismo daqui não é extremista, em minha opinião, é organizacional. Acho que está na medida certa, porque é necessário para dar cadência ao aprendizado. Vocês viverão em um ambiente confinado em que se embarca (no caso do offshore) com, no máximo, 20 pessoas. Cada um ali é responsável pela vida do outro; uma operação errada você vai matar um amigo seu; na hora que está descansando vai dormir tranquilo sabendo que quem está no passadiço ou na máquina está fazendo o melhor trabalho possível (…). A vida de bordo é muito rigorosa. Podem ter certeza que a Marinha Mercante vai exigir muito mais de vocês do que a Marinha de Guerra exige hoje.

    Por fim, que vocês se orgulhem da profissão que estão abraçando, porque é singular, é peculiar, é importante para o país, é uma profissão enriquecedora; que não pensem somente no dinheiro; que cheguem a bordo pensando em melhorar a sua embarcação, a sua empresa, o comércio do nosso país… assim estarão contribuindo para o crescimento do Brasil. A nossa profissão é muito digna e muitos Oficiais Mercantes não se dão conta disso. Acho que a vocês tinham que sair daqui da Escola com esse pensamento e tendo conhecimento da importância que têm.

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