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    EFOMM, Entrevistas, Mercado, Pirataria » domingo, 12 de maio de 2013 »
    Entrevista com o CLC Sidnei Esteves Pereira

          Com muito prazer e satisfação o Jornal Pelicano traz até vocês, nossos tão estimados leitores, a entrevista feita com o CLC Sidnei Esteves Pereira que atualmente integra o corpo docente da nossa querida EFOMM/CIAGA, ministrando aulas da disciplina de Estabilidade.

         Sobrinho do ilustre CLC Amâncio Amaro Esteves que foi um dos grandes nomes da Marinha Mercante a ser professor e fundador da antiga Escola de Marinha Mercante (E.M.M.R.J), o CLC Sidnei Esteves Pereira fala a respeito do seu período de formação acadêmica, de alguns dos desafios encontrados a bordo, da sua viagem inesquecível e comenta sobre o mercado atual marítimo, transmitindo tambem conselhos aos futuros oficiais da marinha Mercante. Fazendo uso de um dos seus mais famosos bordões utilizados em suas aulas, convido a todos a acompanhar esta incrível entrevista. “Alright or not alright?”.

    sidnei

    01. O que levou o senhor a optar pela carreira de Oficial de Marinha Mercante?

    Fui influenciado pelo meu tio CLC Amâncio Amaro Esteves, que na época era professor da E.M.M.R.J, antiga denominação do que hoje é a EFOMM/CIAGA. Viajei com ele ainda criança, o que despertou em mim a vontade de trilhar o mesmo caminho.

     

    02. Quais foram as maiores dificuldades com as quais o senhor se deparou durante o período de formação?

    A transição de um estudante de colégio público (Pedro II), muito jovem, para uma escola militar, ainda com o antigo ginasial, não foi nada fácil. Tive ainda que abdicar de muitas coisas, dentre elas os bailinhos movidos a Rock’n Roll e Ray Connif (Orquestra americana) que movimentavam os salões da época. Também posso dizer que estranhei as inúmeras matérias profissionalizantes que jamais havia estudado antes.

    03. Quais eram as suas maiores motivações?

    Saber que um futuro digno estava a minha espera e, dessa forma, poder proporcionar alegria aos meus familiares.

    04. Quais foram os principais desafios encontrados a bordo?

    Aprender a utilizar corretamente todos os instrumentos destinados à navegação, que exigiam, alguns deles, grande acuidade manual e visual tais como: alidade, sextantes, cronômetro e cronógrafo. Também os diversos cálculos utilizados na navegação astronômica que exigiam o manuseio correto de tábuas e almanaque náutico. Hoje, apesar da evolução tecnológica, se o profissional não se aperfeiçoar, estudar e entender as técnicas modernas, ele com certeza terá problemas.

    05. Quais as formas que o senhor encontrava a bordo de driblar as dificuldades e principalmente a saudade das pessoas amadas?

    Sempre quando possível, telefonava por meio do VHF, que era muito complicado. Também fazia muito o uso de cartas de todos os portos de escala. Cartas essas que muitas vezes chegavam ao seu remetente com atraso. (Eram outros tempos, talvez mais românticos)

    06. Qual foi a viagem que o senhor considera ter sido inesquecível?

    A primeira vez que minha família viajou comigo, no navio “Cabo de São Roque” do extinto Lloyd Brasileiro. Estava ausente há quatro meses. Meu filho mais novo que completou dois anos a bordo, não me reconheceu. A viagem pela costa (Salvador/Fortaleza/Rio) serviu para que ele soubesse quem era aquele “papai” tão falado, mas tão distante.

    07. O mercado marítimo sofreu grandes alterações ao longo das últimas décadas e, no momento, está bastante aquecido e otimista. Na opinião do senhor, qual a perspectiva para os próximos anos?

    Vejo o futuro com boas perspectivas. A navegação de cabotagem na área de container vem sendo cada vez mais incrementada, o que é muito bom. Com o advento do pré-sal, a área de petróleo e gás devera ter um grande impulso em termos de oferta de trabalho para diversas profissões ligadas a Marinha Mercante. Falta um avanço maior na frota de granéis, que considero ser um ótimo mercado. Quanto ao longo curso, existem boas chances dele voltar a ser aquecido.

    08. Foi divulgado recentemente na mídia o caso mais recente de pirataria ocorrido no Sudeste da Ásia mostrando que cada vez mais métodos sofisticados vem sendo aplicados nesse tipo de crime. Na opinião do senhor, quais medidas preventivas devem ser tomadas a fim de se proteger diante a essa situação?

    Uma maior ingerência do conselho de segurança da ONU, talvez até com o envio das forças de paz a estes países, que não combatem a pirataria como deveriam. Cabe também aos armadores planejarem melhor suas rotas evitando ao máximo a proximidade com esses litorais. Quanto à tripulação, algumas medidas são tomadas com o uso de “concertinas” ao longo do casco, vigilância extrema e comunicação sempre atuante.

    09. Quais conselhos o senhor pode transmitir aos futuros mercantes que almejam construir, assim como o senhor, uma carreira de sucesso na Marinha Mercante?

    Não desistam cedo da profissão! Invistam nela sempre com mais empenho e estudo! Absorvam todas as informações possíveis fazendo uso desta ferramenta tão valiosa que é a internet. A Marinha Mercante não está somente a bordo, que para mim ainda é onde mais nos realizamos profissionalmente. Ela faz parte de uma enorme cadeia logística onde as oportunidades são inúmeras, para aqueles que se aperfeiçoam constantemente.

    10. Para aqueles que estão em dúvida em qual ramo da navegação estagiar ou até mesmo em qual companhia praticar, o que o senhor aconselha?

    A princípio, recomendo realizar a praticagem em navios seja em quais forem, se possível no longo curso mesmo que em empresas estrangeiras. O ganho em termos de aprendizagem geral será enorme. Parte da praticagem pode ser feita em Off-Shore, sendo aconselhável deixar mais para o final do período de estágio. Dessa forma, vocês poderão decidir melhor onde trabalhar. Quanto a isto recomendo sempre empresas que valorizem a mão de obra nativa em detrimento da estrangeira, sendo importante enfatizar que não ficamos nada a dever em termos de qualificação.

    Comte Sidnei, muito obrigado por podermos compartilhar um pouco da vasta experiência profissional do senhor e acima de tudo levar até aos nossos leitores informações úteis acerca do cotidiano a bordo e do cenário marítimo atual.

    Quero agradecer a oportunidade que me foi dada pela valorosa equipe do Jornal Pelicano, deixando registrado que para mim foi um prazer e uma honra ser entrevistado. Espero que minhas palavras tenham sido de utilidade para todos. Saudações Mercantes!

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