Em 8 de março comemoramos o Dia Internacional da Mulher, por isso resolvemos falar sobre a atuação feminina na Marinha Mercante, afinal já se foi o tempo em que mulheres em um navio era “sinal de má sorte”. A nossa presença tem aumentado consideravelmente desde 1998 quando passamos a ser admitidas na EFOMM. No entanto, ainda não é fácil ter mulheres assumindo postos de chefia como o de Comando de uma embarcação e como Chefe de Máquinas.
No Brasil, a presença feminina é um tanto quanto recente, mas há relatos de mulheres tripulando navios de bandeira russa durante a Segunda Guerra Mundial¹ e mais: mulheres imediatas em 1851²!
A vida no mar é difícil para homens e mulheres, mas infelizmente a vida feminina na mercante se torna um pouco mais complicada devido aos preconceitos que muitas mulheres vivem em seus navios, pois muitos homens não aceitam que elas sejam tão competentes quanto eles, que passaram pelo mesmo processo de aprendizado. Mas aos poucos vamos mostrando o nosso valor e nossa força, provando que somos tão profissionais quanto os homens. Hoje já temos mulheres no comando de grandes navios e práticas em importantes portos brasileiros.
Para nos falar mais sobre os desafios enfrentados pelas mulheres marítimas entrevistamos a oficial de náutica Cristiane Villela. Natural de Jataí, uma cidade do interior de Goiás, descobriu a EFOMM no Colégio Militar de Fortaleza, formou-se em 2001 no CIABA (Centro de Instrução Almirante Brás de Aguiar).
Pelicano – O que te motivou a entrar para a EFOMM?
Cristiane Villela – A maior motivação para ingressar na Marinha Mercante foi o crescimento do mercado e o favorecimento financeiro a curto prazo.
Pelicano – Algumas mulheres da primeira turma feminina dizem que foram hostilizadas por serem mulheres, você passou por isso na EFOMM?
Cristiane Villela – Os anos na escola foram bem tranquilos. Discriminação existe em qualquer área independente de ser mulher, estamos todos sujeitos a essa situação.
Pelicano – E embarcada? Teve algum problema?
Cristiane Villela – Tive sim, acredito que a maior dificuldade que encontrei foi ser respeitada como Oficial aos 21 anos.
Pelicano – Que conselho você dá as mulheres que estão começando a carreira agora sobre como se portar para que um subordinado masculino a respeite?
Cristiane Villela – Acredito que é de extrema importância uma boa postura a bordo, o que não exclui uma boa convivência com os colegas a bordo. Respeitar e ser respeitado são princípios básicos para uma convivência. Como mulher, o importante é saber distinguir o comportamento das pessoas a sua volta. Excessos definitivamente não é o melhor caminho. Com o tempo cada uma vai aprendendo do seu jeito a encontrar o equilíbrio para lidar com subordinados e superiores.
Pelicano – Como é conciliar a carreira e o casamento, já que seu marido também é mercante?
Cristiane Villela – Conciliar a vida profissional com a pessoal não e fácil para nenhum marítimo. Porém o maior ponto negativo quando se é casada com outro marítimo é as escalas não coincidirem.
Pelicano – Nos fale um pouco dos navios nos quais você trabalhou.
Cristiane Villela – Atualmente trabalho na área de OffShore em uma embarcação AHTS pela empresa Finarge. Tive a oportunidade de trabalhar em navios químico, petroleiro, gaseiro e no offshore em embarcações supply, FSO e AHTS.
Pelicano – Quais foram os principais desafios que passou a bordo?
Cristiane Villela – Como na maioria das profissões temos obstáculos a superar, o maior deles foi a aceitação de uma minoria em receber ordens e de trabalhar com uma mulher sem fazer distinção de gênero, mas com o atual crescimento do ingresso de mulheres na Marinha Mercante, o trabalho vem se tornando cada vez mais natural.
Pelicano – Alguma vez pensou em desembarcar?
Cristiane Villela – Parar de embarcar já passou pela cabeça de vários marítimos. O encerramento da minha carreira a bordo será vinculado a chegada de um filho, mas essa decisão é extremamente individual, já que temos colegas que conciliam com maestria a maternidade e a vida de bordo.
Pelicano – O ingresso de mulheres na EFOMM tem crescido a cada ano, como você vê o futuro da Marinha Mercante com essas mulheres a bordo?
Cristiane Villela – Definitivamente, a nova geração da Marinha Mercante tem realizado grandes feitos. Espero acima de tudo que com o aumento do ingresso de mulheres permita o quanto antes a criação de uma legislação mais objetiva, possibilitando melhores condições e eliminando constrangimentos como os já ocorridos.
As mulheres têm mostrado o seu valor, as autoridades e os armadores aos poucos têm visto a nossa importância. Basta agora sermos reconhecidas e mostrarmos que podemos viver do mar tanto quanto os homens.
Notas:
¹ Segundo o livro Guerra no Ártico, de Georges Blond.
² David W. Shaw descreveu em seu livro “Flying Cloud: The True Story of America’s Most Famous Clipper Ship and the Woman who Guided Her” histórias sobre o veleiro Flying Cloud que tinha como Imediata a Sra. Eleanor Creesy que chegou a comandar o navio durante uma travessia recorde em 89 dias e 8 horas de Nova York a São Francisco.
³ Imagem do blog Mulheres Mercantes (http://mulheresmercantes.blogspot.com/)
8 de março de 2012 às 19:12
Parabéns às Mulheres Mercantes. A CEF homenageou no Dia Internacional da Mulher do ano passado, entre outras mulheres notáveis, uma mulher mercante em sua revista FENAE Agora, da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal, na página 35, que pode ser vista pelo link http://cedoc.fenae.org.br/goldendoc/index.asp?op=download&appname=cedoc&basename=cedoc&file=4325%5F1081%5Fdocumento&forcelogin=true&login=convidado&pass=convidado
9 de março de 2012 às 8:21
parabéns a todas as mulheres,que a cada dia possamos mostrar nosso valor a essa sociedade ainda machista,que nossa força seja usada para melhorar a qualidade de vida do nosso país.mulheres façamos a diferença!!parabéns mulher mercante,presidenta,empresaria,funcionária,mãe….parabéns mulher!!!!!