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    EFOMM, Entrevistas » quinta-feira, 4 de março de 2010 »
    Entrevista com o Oficial Cintra

    Luiz Marcelo Cintra Rezende Bichão, 2° Oficial de Máquinas,

    Oficial Cintra na sala da Divisão de Apoio

    Oficial Cintra na sala da Divisão de Apoio

    Um dos encarregados da Divisão de Apoio da EFOMM, nos deu uma entrevista no último dia 25. Confira o que ele disse:

    01. Em que ano o senhor ingressou na EFOMM, em que ano se formou e com quantos anos?

    Eu entrei em 1988 e me formei em 1990 com 19 anos.

    02. Em quais empresas trabalhou?

    Flumar, Paulista , Docenave, Mansur e Fronape, a atual Transpetro.

    03. Quais são as maiores felicidades que a carreira lhe trouxe?

    A principal é que eu me formei muito novo e venho de uma família humilde que nunca teria condições de me mandar para fora do Brasil, como eu fiz nas empresas que trabalhei no longo curso, e que, mesmo na época em que a Marinha Mercante estava passando por um período difícil e o salário não era nem perto do que é hoje, me ajudou a fazer meu “pé de meia” para que eu pudesse comprar minha casa, meu carro,…

    04. E as decepções?

    Acho que a maior delas é, mesmo não sendo casado na época, era ficar longe da família. E eu peguei algumas empresas que davam muito problema, ou com o navio ou com a própria empresa que não nos deixava trabalhar direito não disponibilizando, por exemplo, peças de reposição.

    05. A carreira era aquilo o que pensava?

    Quando eu entrei, na verdade, apesar do meu avô ter sido Chefe de Máquinas, eu mal sabia o que era Marinha Mercante porque ele morreu quando eu era muito novo. Aí eu fui fazer concurso pra Escola Naval, estudava no Pedro II na época, quando me disseram que “existia uma escola chamada EFOMM que era quase igual a Escola Naval”. Então expectativa era uma coisa que eu não tinha muito. Mas achava muito interessante já que se conhecia outros países. Hoje em dia vocês nem têm muito isso porque existe mais Cabotagem e Offshore. Na minha época ainda existia bastante Longo Curso e eu embarquei em Graneleiro, ou seja, ficava mais tempo no porto. Então a expectativa de quem conhecia a Marinha Mercante deve ter sido correspondida, exceto pelo fato de ter poucas empresas.

    06. Qual o tipo de navio em que mais gostou de trabalhar?

    Eu trabalhei em Carga Geral, em Químico, em Petroleiro, mas o que eu mais gostei foi o Graneleiro principalmente porque ficava mais tempo no porto. O Químico tinha o lance do perigo. Claro que eu falo de 20 anos atrás, praticamente… hoje em dia não é mais assim. Mas eu não me sentia confortável porque ficava preocupado com minha saúde. Inclusive um amigo meu, da minha turma de EFOMM, morreu num navio químico porque não haviam ventilado direito o tanque que ele tinha que entrar.

    07. O que mais gostou na Escola?

    Olha, na época eu gostava de tudo. Desde que entrei, gostei da Escola. Até porque, exceto por um ano, eu sempre estudei em escolas públicas. E quando eu entrei, há 20 anos atrás as instalações da Escola estavam novas ainda. Não sei para o pessoal de hoje, mas para nós era o máximo, até porque quem ia fazer faculdade e era de fora tinha que ficar naquelas repúblicas, toda quebradas, bagunçadas. Já aqui, haviam os camarotes, todos arrumadinhos… Atualmente então, que existem os simuladores, acredito que vocês tenham um impacto bem maior. Além da parte do coleguismo, do soldo que vocês ganham, do atendimento médico gratuito, dos esportes… Eu gostava muito de tudo isso.

    08. O que mais mudou na Escola em relação a sua época?

    O avanço tecnológico. Hoje em dia o aluno tem recursos para sair daqui com uma formação mais completa do que na minha época.

    09. O que mais gostou da Escola como aluno e agora como oficial?

    Como aluno eu gostava muito da parte de esportes. Tanto é que eu passei por quatro equipes: vela, natação, atletismo e basquete. O que pude fazer aqui, eu fiz. E hoje como oficial é ver vocês entrarem aqui “crus” e saírem como oficiais qualificados; entrar um garoto/uma menina e ver virar um profissional.

    Isso é o mais legal. E o contato com gente jovem mesmo, que faz a gente esquecer que somos velhos (risos).

    10. Quais as características que acha que um mercante tem que ter?

    Atualmente o cara tem que ter iniciativa. Eu fiquei um tempo embarcado num Offshore agora no final do ano e eu vi que agora você faz mais coisas a bordo do que na minha época. No meu tempo o oficial na praça de máquinas tirava o quarto de serviço e tinha o cabo foguista para ajudar, o chefe, o mecânico, o eletricista, o marinheiro, enfim… mais gente para fazer o serviço. Hoje em dia, pelo menos no navio que eu embarquei, que era um navio de suporte e mergulho, o oficial faz muito mais manutenção do que fazia na minha época. Então você não pode ficar esperando o problema se resolver sozinho. Você fica bem mais responsável com o que diz respeito à segurança e é muito mais cobrado de ter consciência de emergências que podem acontecer a bordo. Para você ter uma idéia fizemos três exercícios em menos de vinte dias; na minha época fazíamos um por mês. Acontecia de muita gente nem usar EPI* a bordo e virem rir da minha cara porque eu estava usando bota, macacão, protetor auricular,… “Pô, tu ta trabalhando parecendo um astronauta”, eles diziam. E até hoje eu não tenho nenhum problema de audição, por exemplo, que muitos deles já adquiriram. Além disso tem que ter uma boa dose de paciência também porque mesmo não ficando aquele tempo todo que eu ficava embarcado em longo curso, pra você ficar 28 ou 35 dias no Offshore tem que ter “cabeça” vamos dizer assim. Você tem que agüentar aqueles dias bem intensos que você trabalha e é cobrado o tempo todo. No geral você precisa ter muita responsabilidade.

    11. Por que voltar pra EFOMM?

    Eu voltei pra EFOMM porque eu estava trabalhando com análise e inspeção de oleodutos numa empresa holandesa. Então estava com o mesmo ritmo de quem trabalha embarcado, trabalhando em terra. Ficava longe da minha família do mesmo jeito. E acabei pedindo pra me tirarem da empresa, voltar pro Rio pra fazer o ATOM** pra talvez quem sabe, embarcar. E quando eu cheguei aqui, encontrei um antigo colega de turma, o Of. Caprário (na época oficial responsável pela primeira companhia) e ele estava saindo. Daí ele me perguntou: “E aí? Não tá a fim de vir aqui pra Escola não?”. Eu não sabia muito bem como estava o mercado, aí resolvi vir pra cá, acabei gostando e ficando. Eu até embarco assim, esporadicamente.

    12. Pretende fazer o concurso para o Quadro Complementar?

    Não porque já passei da idade.

    13. Fale um pouco sobre o setor em que atua aqui na EFOMM.

    Of. Cintra – Divido a Divisão de Apoio agora com a Tenente Eliana. Ela cuida da parte de uniformes e eu cuido da parte de camarotes. Eu tenho uma equipe de sete pessoas e a gente faz a manutenção “mais leve”, já que existe uma divisão do CIAGA responsável pela “mais pesada”. A primeira parte do meu trabalho é distribuir os alunos pelos camarotes e também a manutenção dos camarotes, como eu disse: verificar se algo está quebrado e mobilizar minha equipe pra tentar resolver. Se for algo que não consigamos, entramos em contato com o Departamento de Serviços Gerais do CIAGA pra eles sanarem. Na verdade não só camarotes, mas também outros compartimentos, como as salas das companhias, Salão de Leitura… na Avenida Alegrete em geral. Preciso verificar a limpeza de tudo também. Quando tem cerimônia tenho que me certificar se está tudo limpo, tudo arrumado… E é claro, a parte disciplinar, que vocês já conhecem. Tenho que subir nos camarotes, ver se não há nada bagunçado, enfim. Afinal aqui é uma escola militar, tem que ficar tudo no padrão. Saindo da divisão de apoio, todo oficial tem cargos colaterais. Eu, por exemplo, sou responsável pelas equipes de basquete e atletismo. Sou o contato entre o técnico e o Comando da Escola.

    Oficial Cintra na praça de máquinas

    Oficial Cintra na praça de máquinas

    14. Como o senhor se sentiu quando se formou maquinista?

    Como eu disse, eu não sabia o que era Marinha Mercante direito. No início eu havia escolhido o curso de Náutica. Na minha época havia muita gente botando na cabeça dos outros que o bom era ser piloto. Fui maquinista graças a minha classificação na Escola, mas depois eu gostei. Acho que se eu fosse piloto seria pior porque não teria feito outras coisas, já que a época em que sai da Escola foi uma das piores, senão a pior da Marinha Mercante. Até por causa disso eu só fiquei de 1990 a 1997, embarcava normalmente por tempo determinado e fazia algo em terra quando não estava embarcado. Se eu não fosse maquinista, não conseguiria os empregos que consegui em terra. Trabalhei em fábrica de cerveja, trabalhei em uma empresa alemã que vendia peças de manutenção para indústrias, trabalhei em comércio exterior… tudo isso graças aos meus conhecimentos de máquinas e navios. Eu fiz pós-graduação em Análise de Sistemas. Daí eu uni o que eu sabia de informática, com o que eu sabia de máquinas, por isso trabalhei com análise de dutos. Nesse emprego, inclusive, o trabalho era todo em inglês, exigia-se ser fluente. E todo o inglês que aprendi foi graças à Marinha Mercante: aprendi viajando. Eu acho, claro que aí já é uma opinião pessoal, mas eu acredito que o pessoal de Máquinas seja mais “vibrador”, vamos dizer assim. Claro que o pessoal do convés também é importante. Acredito que o maquinista até se divirta mais a bordo que o piloto, afinal a gente tá lá no coração do navio.

    *EPI = Equipamento de Proteção Individual

    **ATOM = Atualização de Oficiais de Máquinas

    ***Quadro Complementar = Possibildade de ingresso à Marinha de Guerra

    Agradecemos ao Oficial Cintra por sua boa vontade e paciência ao participar dessa entrevista com a gente. Aguarde novas entrevistas.

    Por Al. Affonso, Al. Felipe Costa e Al. Antônio

    Comentários

    1. Breno Bidart disse:

      Muito boa a entrevista.
      Breno Bidart

    2. José Carlos disse:

      Excelentes as entrevistas dos Oficiais Daniel Lobo e Cintra.

      Sugiro que a Equipe do Pelicano entreviste os Professores Chaves, Diocélio, André e Adilson e se, ainda tiverem tempo Sr. Almirante Mathias, eles têm muito para acrescentar.

    3. Marcio Fernandes TROCADO disse:

      Faaala Cintra!!! Rapaz, agora você não quer outra vida mesmo heim? Pois é, conheci o aluno Cintra, ele foi da minha turma de adaptação, a turma Alfa. Foram bons tempos. Agora vi que tem um tópico só para as turmas mais antigas, vou tentar enviar umas fotos da turma de 90 e mais algumas do estágio e da praticagem. Vamos tentar fazer o nosso encontro de turma de 20 aí na EFOMM. Se Deus quiser vai sair. Forte abraço a todos e saudações mercantes! Fuuuiii!!!

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