Na primeira metade do século 20, a Companhia Nacional de Navegação Costeira , conhecida popularmente como Costeira, fazia navegação de cabotagem transportando cargas e passageiros de norte a sul do Brasil. A empresa possuía navios com nome em tupi-guarani iniciados pelas sílabas Ita. Da frota, faziam parte os navios: Itaquicé, Itapé, Itanagé (construídos na Escócia), Itahité, Itaimbé, Itapagé (construídos na França), Itaberá, Itagiba, Itaguassu, Itaipu, Itajubá, Itapema, Itapuca, Itapuhy, Itapura, Itaquara, Itaquatiá, Itaquera, , Itassucê, Itatinga e Itaúba.
A Companhia Costeira foi fundada em 1882 pelos descendentes de um armador português, que imigraram para o Brasil. Inicialmente a empresa se chamava Lage & Irmãos.
A população utilizava muito esse meio de transporte pela facilidade que as viagens marítimas apresentavam em relação à viagem de trem, pois nesta última havia a necessidade de pegar mais de uma composição férrea para determinados destinos.
Os principais portos servidos por estes navios eram os de Manaus, Belém, São Luís, Fortaleza, Natal, Cabedelo, Recife, Maceió, Penedo, Aracaju, Salvador, Ilhéus, Vitória, Rio de janeiro, São Sebastião, Florianópolis, Rio Grande e Porto Alegre.
Dos navios da classe Ita se destacaram o Itapagé e o Itagiba, afundados durante a 2ª Guerra Mundial. O Itapagé foi torpedeado em 26 de setembro de 1943 pelo submarino alemão U-161, próximo à costa de Alagoas), quando 22 de 106 pessoas a bordo morreram. O Itagiba sofreu ataque dos torpedos do submarino alemão U-507 e soçobrou em 17 de agosto de 1942, ao sul de Salvador, na costa baiana. Das 119 a bordo, morreram 26 passageiros e 10 tripulantes. O Itaúba foi incorporado à esquadra da Marinha de Guerra brasileira, classificado e rebatizado como Navio Auxiliar de 2ª classe, com o nome Vital de Oliveira em 29 de outubro de 1931. Em 19 de julho de 1944 foi posto a pique pelo U-861 alemão, a 25 milhas ao sul do Farol de São Tomé quando faleceram 99 pessoas entre os 270 oficiais, tripulantes e passageiros do navio.
Algumas curiosidades podem ser lembradas em relação aos Itas como, por exemplo, o transporte da delegação brasileira para os Jogos Olímpicos em Los Angeles a bordo do Itapagé, em 1934, onde se encontrava Maria Lenk, famosa nadadora que deu seu nome ao complexo aquático onde se realizaram as provas de esportes aquáticos dos Jogos Pan-Americanos em 2007, no Rio de Janeiro. Em 1956, o Itaquiatiá salvou os passageiros e tripulantes do grande incêndio no Carl Hoepcke, na altura de Itanhaém. Outro fato a destacar foi o nascimento do ex-presidente da República Itamar Franco a bordo de um desses navios.
Até 1920, os comandantes dos Itas, todos de origem britânica, faziam questão de escalas rigorosamente cumpridas e ações impecáveis em todos os aspectos.
Na década de 1970, a maior parte da frota da Costeira aguardava demolição, abandonada num cemitério de navios, na Baía de Guanabara. Como sucatas enferrujadas estavam muitos dos paquetes que tinham sido orgulho da marinha mercante nacional.
Entre 1970 e 1972, foram construídos 14 navios cargueiros da série Ita-liners (navios de linha regular), para o Lloyd Brasileiro. Eles foram batizados em homenagem aos antigos navios da Costeira: Itaberá, Itagiba, Itaimbé, Itaité, Itanagé, Itapagé, Itapé, Itapuca, Itapuí, Itapurá, Itaquatiá, Itaquicé, Itassucê, Itatinga.
“Peguei um Ita no norte e vim pro Rio morar / Adeus meu pai, minha mãe / Adeus Belém do Pará”. Dorival Caymmi
6 de julho de 2011 às 12:40
Gostei muito desse Artigo… Lembrei de um Ita que naufragou na Baía do Pontal, em Ilhéus – Ba. Dizem que houve um incêndio à bordo e muitos morreram. Quando eu era menino cheguei a mergulhar no local com o intuito de encontrar os destroços e o que vi foram ferros retorcidos e um berçário de várias espécies marinhas… O local ficou comprometido com a construção da Ponte Ilhéus-Pontal. Creio que o nome desse Ita era Itacaré… A minha mãe contava essa história cheia de tristeza! Pelo jeito abalou a população da época! Ronaldo Rhusso
27 de outubro de 2011 às 14:39
Estou encantada com o que acabo e ler… Tive a oportunidade da fazer inúmeras viagens no Itaimbé, Itanagé e Itaité, quando era criança e adolescente. Não esqueço nunca os dias maravilhosos que passei à bordo desses navios. Lastimo imensamente que tenham sido jogados no lixo. Navios simpls, sem luxo, mas confesso que eu não os trocaria por nehum Ana Nery ou Rosa da Fonseca, navios que chegaram depois da era Ita.
23 de março de 2012 às 13:59
Material de excepcional qualidade, que preserva assim a memória histórica da navegação brasileira.
Como posso ter acesso relação de tripulantes dos návios ITA, que aportaram em Belém-PA entre os anos de 1968 a 1974.
Grato .
Sincera e fraternalmente ,
João Conceição.